01/04 (Agari Nokori): Casa Abandonada

CAP 04 | Casa Abandonada

Agari corre, mas a criatura é rápida e implacável. A besta colossal usa os tentáculos para se prender nos prédios, enquanto prolonga as pernas afiadas na direção do viajante. Escombros e pedaços de metal caem do alto toda vez que o monstro se gruda em uma construção. O chão treme a cada salto que o ser faz de prédio em prédio. Agari corre, fazendo várias acrobacias para se desviar dos ataques do inimigo e dos fragmentos que despencam sobre ele. Em alguns momentos, sem ter como esquivar, ele quebra, com socos e chutes, as placas de ferros e blocos de pedra que ficam no caminho dele. Enquanto foge, ele reflete.

“Esse monstro está ficando cada vez maior à medida que pula de estrutura para estrutura. Será que ele se alimenta das construções? Puxa ... Eu ainda não consigo acreditar que foi isso que destruiu toda a cidade no futuro, reduzindo os veículos de combate a farelo e poeira. Não dá para acreditar. Ele é lento e pesado demais. Esse colosso seria um alvo fácil para mísseis e bombas. Além disso, ele parece se remontar de tempo em tempo. É isso! Ele consome as construções para se manter estável. Definitivamente, não pode ter sido esse monstro, um tipo de peixe mecânico com pernas, que fez o estrago no futuro.”

Em um estalo, o humanoide se lembra de ter lido na agenda sobre um equipamento que tinha achado em outra exploração e utiliza o item para criar uma barreira protetora em torno de si. O monstro tenta perfurar o campo de força, mas não consegue. Então, em meio as construções em ruína, Agari emite um clarão de luz e acaba desaparecendo do inimigo. Já longe, o viajante está ofegante e por causa disso deduz que existe algum problema com o ar naquele momento, pois ele nunca tinha ficado tão sem fôlego após um confronto.

- Bom ... Tenho de deixar o sensor térmico ligado. Chega de surpresas, né! Outro bichão como esse aqui ... Não quero ver tão cedo. Falar nele ... Que coisa feia era aquela. Alguém construiu um monstro peixe para andar em terra? Será que tem coisa pior que aquilo nessa região? Bom ... Já que estou aqui, vou vasculhar o local. Sempre tem algo interessante para coletar.

Após ligar o sensor ...

- Puxa! Que coisa ruim. Há, somente, eu e aquela máquina estranha num raio de 800 quilômetros. Acho que não vou bater papo com os seres rinocerontes de antes. Então, sem conversas nesse mundo com os habitantes locais ou com aquele monstro em forma de peixe. Bom ... Acho que ele não quer falar comigo também e dessa forma dá empate. Vamos ver se, antes do sino tocar, acho mais informações ou itens.

Então, Agari caminha atento ao radar para se manter longe da criatura colossal. Monitorando o equipamento, ele nota alguns ruídos de fundo, bem fracos, indicando uma pequeníssima emissão de calor. Indo na direção do ínfimo sinal, o humanoide chega em um terreno onde alguns traços de grama verde são visíveis. Mais especificamente, uma pequena quantidade de poucos e esparsos maços de capim. Avançando mais naquela localidade, o viajante observa outros sinais de uma natureza resistente à destruição, todos próximos aos restos de uma mansão.

- É estranho ... Essa vegetação ainda estar verde. Toda a região ao redor parece estar morta faz anos. Será que tem algo que explique essa discrepância dentro daquela construção?

Agari entra dentro da casa em ruínas. Ele começa a vasculhar, com cuidado, mantendo-se atento para qualquer alerta de perigo. Na sala de entrada, o teto está caindo aos pedaços, o assoalho do chão está descolado e quebrado, as janelas danificadas, os vidros trincados e as paredes estão, quase completamente, tomadas pelo mofo, exceto por uma região onde parecia haver um quadro. Poeira e mais poeira permeiam o ar do local. Nenhum móvel ou objeto caído no chão. Mesmo imaginando que toda a mansão possa estar no mesmo estado da sala, o viajante continua a explorar aquele lugar.

O humanoide checa cada cômodo e vai descobrindo que alguns não estão tão deteriorados quanto o primeiro que olhou. Existe, inclusive, móveis ricos em detalhe e elegância, apesar de comidos pelo tempo e cobertos de sujeira. Ele vasculha cada armário e gaveta, até que, finalmente, encontra algo que chama a atenção dele. Um retrato de uma jovem menina, de cabelos verdes, emoldurado em uma parede quebrada. Tudo parece destruído e detonado lá dentro, mas aquele retrato está como novo. De tão vívida que a pintura está, a tinta até parece fresca. Agari olha fixamente para a imagem e parece não acreditar. A expressão retratada naquele quadro é a representação da pura e profunda tristeza.

Agari nota que há algo escrito na moldura e, ao se aproximar para ler, vê um nome: Mife Rubron. Ele retira, cuidadosamente, o quadro e encontra na parte de trás um bilhete. No pequeno pedaço de papel está uma mensagem.

“Nokori, desculpa não ter conseguido chegar em tempo.”

Agari decidiu que irá levar o retrato com ele. Após desemoldurar o objeto, ele enrola a tela e envolve com todo cuidado num plástico. Em seguida, Agari Nokori guarda o item dentro da mochila e sussurra.

- Você não teve culpa nenhuma menina.

O viajante continuou a explorar a mansão em busca de mais pistas sobre a história da jovem. O lugar parece ter sido abandonado às pressas e há algumas coisas pessoais deixadas pra trás. Por sorte, alguns cadernos parecem mesclar símbolos que ele conhece com os usados nos projetos dos carros voadores que ele apanhou. Em um escritório, Agari nota marcas em prateleiras do que parece ter sido uma estante. É como se algo tivesse sido retirado de lá recentemente. Procurando em outros lugares, ele acha uma pequena caixa em um dos quartos. Após abrir o objeto, o humanoide faz um rápido e entusiasmado comentário sobre o que há ali dentro.

- Opa! Isso eu consigo ler!

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