01/03 (Agari Nokori): Cidade Vibrante

CAP 03 | Cidade Vibrante

Agari se mantem frio e calmo, mesmo com o que acaba de presenciar. A cidade está de pé, vibrante e pulsante, como se nunca houvesse sido soterrada. As ruas, agora asfaltadas, estão movimentadas e repletas de seres bípedes com aparência de rinocerontes. Os habitantes caminham normalmente e não há sinal de preocupação neles. Sem exceções, todos daquele mundo possuem os corpos adornados com implantes tecnológicos e acessórios futurísticos. Telas holográficas exibem publicidade de produtos, veículos voadores cruzam o céu e robôs de serviço realizam trabalhos com precisão e eficiência.

O viajante verifica que aquele mundo tem uma estética cyberpunk diferente e particular. Prédios altos e esbeltos, luzes de neon piscando nas fachadas e veículos com designer pontiagudos se misturam harmoniosamente com a natureza. Dessa forma, jardins verticais, imensas árvores com folhas brilhantes em meio aos edifícios, telhados verdes e amplas áreas de parques são presentes na superfície e nas cidades flutuantes. Entretanto, o que mais chama a atenção de Agari são os carros voadores, pois aqueles modelos são bem diferentes dos projetos que ele encontrou no prédio soterrado.

- Será que ... os modelos de uso diário são diferentes dos usados para as corridas? Bom ... Pode ser isso. Puxa! Que pena ... Se for isso, só verei aquelas máquinas em ação quando houver algum evento.

Apesar de nunca ter estado em um lugar como aquele, segundo as anotações na caderneta, o humanoide começa a se sentir em casa naquele mundo, pois ele está fascinado com a tecnologia e a dinâmica daquele local. Sem ter muita escolha, ele decide caminhar pela cidade em busca de uma biblioteca. Enquanto percorre as ruas da cidade, ele procura ouvir conversas aleatórias dos seres que passam perto dele, pois Agari possui um avançado processador de informações que é capaz de decodificar o sistema de linguagem usado em diferentes mundos. Enquanto coleta dados e pistas visuais, ele reflete.

“Puxa! O povo aqui gosta de uma conversa. Isso é bom. Em meia hora, acredito já estar conseguindo interagir verbalmente com eles. Entretanto, o padrão de construção das palavras que eles usam, não parece bater com os que acessei no prédio soterrado. Na verdade, apesar do mundo de livros naquele andar escondido, cada obra parecia estar escrita num sistema de dialetos diferentes.”

Ele passa em frente a uma loja de doces e consegue ler as promoções do dia.

- Boa! Hora de forrar o estômago ... Será que eles aceitam diamantes ou moedas de ouro como forma de pagamento? Quem me construiu, deveria ter colocado um conversor de cambio monetário na minha mochila ... Isso facilitaria muito minha vida. Bem como, deixar um bilhete de qual é o meu propósito. Me sinto como um personagem que só resolve um monte de missão secundária ... Qual a missão principal?

Agari dá dois passos e sente que a mente dele começa a ficar turva. Em seguida, os membros vão ficando cada vez mais pesados, como se o humanoide estivesse sendo puxado por uma força invisível. Então, a visão começa a ficar embaçada ... As cores distorcidas ... A realidade desfocada. O viajante começa a cair enquanto o chão vai se desfazendo sob seus pés, derretendo como se fosse feito de cera. Agari afunda, sentindo o ar quente contra seu rosto enquanto atravessa a estrutura líquida. Então, ele mergulha numa massa amorfa tão escura quanto a noite e surge num mundo composto por pilares de cristais brilhantes, porém tudo está de cabeça para baixo. O humanoide azul percebe que está num ambiente invertido.

Agari sente-se fraco e desorientado. Ele começa a caminhar entre os imensos cristais, ainda tentando se acostumar com a nova realidade. Gigantescos pilares brilham em tons de azul, roxo e verde, refletindo em seu rosto e iluminando o caminho. Enquanto salta pelas imensas estruturas, Agari, usando o zoom do sistema de captura de imagens do visor, vê formas se movendo ao longe, como se fossem diversos tipos de ursos. Alguns parecem ter asas e serem feitos de pedra, enquanto outros seriam constituídos de plasma e pura energia. Além desses, existia um bando de filhotes pequenos e rápidos que correm de um lado para o outro. Todas aquelas formas parecem coexistir tranquilamente, mas Agari não imagina qual será a reação deles para com um estranho. Sem querer perder tempo, o humanoide reflete.

“Aconteceu de novo.”

Enquanto se afasta daqueles “ursos”, o viajante sussurra.

- Bom ... Dá outra vez, foi rápido achar aquilo.

Então, como se o ambiente escutasse as palavras de Agari, um clarão de luz ocorre ao longe.

- Ah! Está ali!

No momento em que Agari estava chegando próximo daquilo que parecia um pequeno Sol condensado e reduzido ao tamanho de uma bola de boliche, uma enorme boca surge do nada. Somente uma boca. Sem olhos ... Sem face ... Os colossais dentes daquela gigantesca estrutura aparecem em meio ao breu que parece levar a um fundo sem fim. A monstruosa boca suga tudo, inclusive Agari, para dentro de um vórtex. O humanoide só tem tempo de olhar para trás e tentar se segurar em algo, mas até os gigantescos pilares são puxados e se desfazem em um tipo de poeira cintilante.

Quando o viajante acorda, ele está novamente na cidade dos carros voadores, mas dessa vez entre dois prédios altamente danificados. Agari tenta recuperar o fôlego e se levantar. Não há o verde das plantas ou qualquer outro sinal de vida orgânica. Ele olha em volta e percebe que o local, apesar de estar destruído, ainda não foi soterrado.

De repente, o humanoide escuta um som estranho vindo de uma rua lateral e decide seguir em direção ao barulho. Quando chega mais perto, o viajante encontra uma criatura estranha: uma espécie de peixe mecânico com pernas afiadas e uma cabeça com quatro olhos gigantes. Usando tentáculos de titânio que saem dos membros, o monstro começa a atacar Agari, que mesmo tonto, rapidamente se esquiva dos golpes. Enquanto se desvia, ele reflete.

“Tá ficando pior ... Eu não estava, agora a pouco, na frente de uma loja de doces? Do que adianta continuar no mesmo mundo e preservar minhas memórias se ele mudar 360° do nada?”

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