01/10 (Agari Nokori): Lamento Sem Descanso

CAP 10 | Lamento Sem Descanso

Numa linda e imensa biblioteca, diversos livros estão jogados pelo chão. Não só ali, diversos exemplares e volumes estão espalhados, também, por longos corredores, nos quais podem ser vistas magníficas armaduras de soldados medievais. Os livros, com capas extremamente luxuosas e detalhadas, fazem um tipo de trilha. A arquitetura do local é luxuosa: pisos de mármore branco, colunas de marfim, diversos detalhes em alto relevo feitos de ouro e móveis de prata. Qualquer um que entrasse ali dentro diria estar num castelo imperial de grande riqueza e brilho. Num imenso salão, que parecia a sala do trono de um rei, uma jovem, de 20 anos e traços coreanos, está deitada. Em volta dela, pilhas e pilhas de mais livros. Era como se ela tivesse apagado de tanto ler e pesquisar. Calmamente, uma cobra amarela rasteja até a moça e leva mais livros, mas a garota afasta o animal.

- Tá bom! Tá bom! Já basta! Eu não tenho a menor ideia de quem ou o que é aquilo.

Em um quarto luxuoso, Agari está deitado e desacordado. Do lado de fora, um lindo sol começa a lançar raios quentes pela janela. Lentamente, o humanoide começa a despertar. Surpreso, ele percebe que está num ótimo local, que é muito diferente de onde ele achou que estaria.

- É ... Ou aquela cobra gigante tem um hotel cinco estrelas na barriga ou eu fui salvo por alguém.

Após olhar o jogo de xícaras de prata que está ao lado, ele conclui.

- Ah! Retiro o que disse ... Isso aqui tá além de um hotel cinco estrelas.

Na porta do quarto, Tila Nurdes, a menina das cobras do mundo das cobras, está olhando para Agari. Ao perceber a presença da jovem, o viajante tenta estabelecer algum contato.

- Oi ...

Ela responde com um oi e diz que já era hora. Ela estava pensando que ele tinha derretido os miolos. Então, o humanoide leva um tempo para processar a resposta dela.

- Ah! Miolos. Entendi ... Eu sou um humanoide.

Tila diz que ela lá sabia o que é isso. O que ela sabe é que Agari tinha deixado a Mori irritada. Que ele simplesmente passou pelas filhas dela, como se elas fossem um lixo. Que isso não se faz por aquelas bandas. Após a reclamação, ela pergunta de onde ele é. Antes de responder, o viajante olha o quarto mais uma vez.

- Eee ... Essa é uma longa história.

Então, ele se lembra de algo e tem um “arrepio” por dentro.

- Moça! Deixa-me perguntar uma coisa ... Foi você que me salvou? Certo? Você viu uma mochila verde perto de mim?

Tila olha para Agari como se ele não estivesse dizendo coisa com coisa. Ela o lembra que ele estava sendo arrastado, inconsciente, pela correnteza de ácido. Que já é sorte ele não ter derretido. Que se ele tinha uma mochila, se ela fosse ele, iria chorar muito, pois não deveria ter sobrado nada dela. Após essas palavras, o humanoide aperta um botão no braço.

- Ela é feita de um material mais resistente que eu. Se eu não derreti, a mochila está bem.

Tila se aproxima de Agari e, enquanto ela dá várias batidinhas na cabeça dele, a jovem pergunta do que o humanoide é feito. Apesar do viajante estar focado em olhar um radar para localizar a posição da mochila, ele responde.

- Fibras de titânio modificado acrescidas com um metal de outra dimensão e polímeros vivos que possuem capacidade de autorregeneração.

Tila olha atenta e comenta surpresa.

- Nooooossa ... Com toda essa tecnologia, você é capaz de dizer onde está? Você sabe que lugar é esse?

Calmamente, Agari responde.

- Num quarto ...

A menina começa a tremer o canto do olho. Mantendo a calma, ela fala que já entendeu. Ela comenta que Agari é do tipo engraçadinho. Surpreso, o viajante se desculpa.

- Não foi isso. Desculpa! Não foi essa intenção. Você perguntou em qual mundo? Não sei! Você pode me dizer?

Tila senta no chão e conta que aquele local é uma zona de remissão de culpas. Ela acrescenta que, no passado, ali havia um reino de pessoas amigáveis e felizes, mas em um dia, quando o Sol ficou verde, toda a região foi invadida por algo que ninguém sabia descrever o que era. Os livros mencionavam como um lamento sem descanso dos mortos. Ela revela que está ali há 800 e poucos anos. Vira e mexe, ela encontrava um camponês perdido perambulando pelas ruas, mas eles depois sumiam. Olhando para o alto, ela fala que não sabia se as cobras os comiam. Então, uma cobra amarela chega perto de Tila e a jovem faz carinho na cabeça do animal. Enfaticamente, ela reforça que não sabe mesmo. Enfim, ela completa.

- Eu até já perguntei para aquela belezinha gigante que você conheceu, mas a Mori nunca diz nada. Aquela praga se faz de desentendida. Mesmo eu sendo contra, acho que elas devoram os infelizes.

Sem entender muito, Agari olha para a jovem. Mesmo assim, ele faz uma pergunta.

- Eles ... Surgem do nada.

Tila pega a cobra e a coloca no pescoço.

- Isso mesmo! Igual a você.

Então, Agari se levanta.

- Bom ... Se tem mais gente que tá pulando de mundo em mundo, eu preciso bater um papinho com eles. Eu não sei por qual motivo isso acontece comigo. Sei que minha mochila é a única forma de eu saber o que houve em cada mundo.

Sem que pudesse esperar por aquilo, Tila puxa Agari pelo braço e diz que eles precisam ir, pois era a hora de caçar e achar a mochila dele! Segundo ela, do jeito que o viajante fala sobre o objeto, deve ter um monte de coisa legal guardada nela. Quando Agari ia responder, o humanoide escuta algo inesperado.

- Ei! Como ela entrou aqui?

Confuso, Agari olha para Mife ... Depois, olha para Tila ... Tila olha para Agari ... Após, para Mife ... O gato holográfico olha para todo mundo ... Então, finalmente, Agari diz algo.

- Mife ... Minutinho. Mochila e já respondo.

Tila pega um docinho que Mife estava prestes a pegar na mesa. Depois ela se deita no chão e fala para Mife.

- Ih! Esquece menininha, pois o querido aí perdeu a mochila num rio de ácido. Nós estávamos indo procurar antes de aparecermos aqui.

Após dar uma mordida no doce, ela se vira para o humanoide.

- Você não lembra?

Enraivecida, Mife olha para Agari e só pergunta uma coisa.

- Que história é essa dessa desconhecida chamar você de querido?

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