01/04 (Duon Naliart): A Contato Fofoqueira

CAP 04 | A Contato Fofoqueira

Victor fecha os olhos e faz força para dizer algo agradável. Ele agradece, mas sente que irá explodir em risos histéricos a qualquer momento. É como se um profundo medo e desespero fossem tomar conta dele. Dick, pressentindo problemas, está com a mão no revólver e atenta a qualquer tipo de rompante. Inesperadamente, Duon coloca a mão no ombro do policial acamado e isso deixa Dick mais preocupada ainda.

- Não se preocupe. Vou resolver isso. Um dia, quando eu estiver em apuros, você chega para me salvar. Afinal, os bons detetives servem para isso. Resolver casos impossíveis, misteriosos e complexos. Não é mesmo? Nossa maior recompensa é tirar da sociedade as pessoas de caráter maléfico que fazem crueldade com os inocentes. Vai ficar tudo bem.

Ao ouvir aquelas palavras e lembrar que é um policial, Victor começa a voltar ao estado de lucidez anterior, ainda que continue mantendo as mãos cerradas. Mesmo assim, agora, ele consegue dizer um obrigado mais fluido e normal, apesar de observar criaturas se movimentando nas sombras. Temendo pelo próprio fim, o homem deixa escorrer uma lágrima.

- Se for isso ... Peguem o desgraçado. Aquela Lua, no lugar do Sol, parece mexer com nossa percepção de realidade. Sinto que é como se eu estivesse sendo devorado a todo instante.

Após se despedirem de Victor, Duon e Dick saem do quarto. Distantes da porta, a dupla conversa sobre aquele rápido testemunho. Entretanto, apesar de estarem se afastando cada vez mais da enfermaria, discretamente, Dick olha para trás constantemente, pois tem a sensação de que ela e Duon estão sendo observados por algo. Após alguns minutos de palpites e conjecturas, quando os dois entram no carro, o detetive Duon encosta a cabeça e tem uma ideia. Olhando fixamente para o horizonte, ele comenta sobre o que irão fazer.

- Vamos alterar a ordem da lista das pessoas que iremos interrogar. Pulemos as vítimas afetadas pela alucinação e sigamos, logo, para falar com a estagiária Sofia na faculdade Durdore. Afinal, ela gosta de falar. Não é mesmo? Acredito que ela não será uma perda de tempo.

- Por qual motivo você acha isso? Além disso, ela relata ver a Lua Dourada também.

- Acho que ela envenenou o policial que acabamos de conversar. Você viu o jeito alegre que o Victor ficou ao falar sobre essa Sofia. Eu deduzo que ela seja alguém que escolhe, cuidadosamente, as vítimas para testar uma substância alucinógena. Se for isso, a Sofia dizer que está vendo o mesmo que as cobaias é uma jogada de mestre para afastar as suspeitas sobre ela.

- Ela puxa de uma perna ... É alta ... Fofoqueira ... Tem vários contatos ... Deve ter acesso a diversos locais dentro da faculdade ... Em resumo, ela chama atenção demais. Seria uma pessoa que, instintivamente, qualquer detetive descartaria ou colocaria logo como suspeita. Não há uma escolha intermediária para a situação dela. Ela se passar por vítima é uma ótima camuflagem. No caso da Lua Dourada, em específico, não há como provar que uma pessoa está mentindo ao falar que está vendo algo substituindo o Sol, pois os testes de polígrafo foram inconclusivos com todos os afetados.

- Depois, vamos ver se damos sorte e falamos logo com a neta do Dr. Hector. Se ela conhecer a Sofia, para mim, as peças começarão a se encaixar. Eu não acredito que a estagiária conheça todas as vítimas pessoalmente, mas acho que ela deve ter uma relação bem próxima com a parente do Hector. Nossa “suspeita” está num projeto de cárdio, sendo que nossa outra vítima faz faculdade de medicina.

Após uma hora de viagem de carro, Duon e Dick chegam até a faculdade Durdore. Dentro da instituição, os dois seguem para o bloco onde fica o departamento de química. Entretanto, ao invés de irem até os corredores que dão acesso aos laboratórios, a dupla para em um restaurante, tipo self-service, que fica no pátio.

- Está perto da hora do almoço. Talvez encontremos nossa suspeita por aqui. Será um azar, se ela tiver trocado de acessório de cabelo e estiver usando muletas.

Após Duon falar essas palavras e se sentar numa cadeira, duas jovens se aproximam e se sentam à mesa vizinha. Ironicamente, uma delas corresponde com a aparência que Duon tinha mencionado. Enquanto os detetives observam discretamente as garotas, a mais nerd delas comenta.

- Sofia! Você viu que o fenol continua dando resultado. Logo teremos um novo tratamento para infarto.

Por causa da proximidade, não há como a conversa das jovens passar desapercebida. Enquanto olha para Dick, Duon, através de um gesto sutil com a mão, expressa que está tão surpreso quanto ela. Curiosamente, Sofia estava usando um prendedor de cabelo e muletas. Enquanto Dick pega o cardápio com uma mão, involuntariamente, a outra está segurando a arma na cintura. Ao longo de uma hora, as estudantes falam, ininterruptamente, sobre dados científicos e artigos que estavam usando como referência para a pesquisa. Finalmente, Dick e Duon terminam de almoçar. Inesperadamente, o homem se levanta, sendo seguido pela parceira dele. Quando estão no caixa para pagar, Dick pergunta.

- Por que não esperarmos elas terminarem?

- Só se você quiser deixar de ser minha colega de trabalho e virar estagiária no laboratório delas. Se não terminássemos de almoçar logo, eu acabaria decorando todas as etapas químicas de transformações que o composto, que eles estão estudando, sofre dentro das células cardíacas. Eu tô ... Precisando respirar um pouco.

Enquanto Dick abre a carteira, a garota começa a esboçar uma risada discreta de canto de boca, que é substituída, rapidamente, por um leve e vagaroso balançar de cabeça. Ao mesmo tempo, Duon está afrouxando a gravata, pois realmente estava saturado com toda a conversa das jovens pesquisadoras. Os policiais caminham em direção a um pequeno jardim externo de onde podem observar Sofia. Após alguns minutos, os dois são abordados por quatro rapazes de um grêmio estudantil, que, na visão de Dick, só falam besteira. Duon tenta mostrar claro desinteresse nas propostas que os estudantes falam, mas eles só desistem da abordagem quando o homem revela ser um detetive da polícia.

- Acho que vocês podem ajudar no caso que estou investigando ... Desejam me acompanhar até a delegacia?

Os jovens desaparecem em um piscar de olhos, mas toda aquela situação permitiu que Sofia terminasse o almoço e saísse do restaurante sem que a dupla de detetives pudesse seguir a suspeita. Após notarem o ocorrido, Duon e Dick não vêm outra opção a não ser bater de porta em porta no setor de pesquisa. Ao entrarem em um corredor, Duon escolhe, aleatoriamente, um laboratório para começar. Então, eles são atendidos por um jovem que pergunta o que os dois desejam.

- Olá! Estamos procurando Sofia Feliar. Sabe dizer onde possa encontrá-la?

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