01/02 (Sufi Kalre): Viagem Inesperada

CAP 02 | Viagem Inesperada

Ainda sonolento, Sufi se dirige até a porta. Após abrir, ele tem uma surpresa ao ver uma policial parada em frente ao local onde ele mora. A mulher aparenta ter uns 28 anos, possui cabelo verde com uma franja sobre o olho esquerdo, usa um uniforme azulado com detalhes prata e uma pinta no canto da boca. Então, a oficial se aproxima do jovem.

- Boa noite ... Precisamos que você e sua amiga do contêiner 88 venham com a gente até o escritório regional. Estamos investigando um sequestro que aconteceu perto da biblioteca. Precisamos saber se vocês dois viram algo que possa auxiliar no nosso trabalho. A única câmera de segurança, que não estava desligada, registrou vocês dois saindo do prédio pouco antes do crime.

Após escutar essas palavras, Sufi reflete.

“Droga ... Por isso o robô bibliotecário estava desligado. Alguém apagou ele depois que entrei. Como eu não percebi alguém entrando lá, essa ação deve ter sido a distância. É estranho ... Porque sequestradores teriam o trabalho de desligar um modelo tão arcaico, como aquele, de modo remoto? Se ele escutasse alguém pedindo socorro, entraria em modo de combate? Ele é do tipo que não tem conexão com redes externas para evitar entrada de vírus nos programas internos. Deve ter sido extremamente complicado acharem um jeito de desligarem ele ... Teria sido mais fácil cortarem, com uma lâmina, aquela máquina ao meio.

Olhando para a policial, o jovem, com um sorriso, diz que irá com eles sem problema. No contêiner da frente, saindo desorientada e um pouco tonta, Tabatá está sendo escoltada, por uma mulher idêntica à policial que abordou Sufi, em direção à viatura. Quando a dupla se reencontra no banco de trás do veículo, Tabatá coloca a cabeça no ombro de Sufi e apaga de sono. O jovem, curioso, indaga.

- Gêmeas?

A oficial que falou com ele primeiro responde.

- Positivo. Me chamo Danielle e minha irmã Daniella, ambas com dois “L”.

Sufi se remói por dentro.

“Que criatividade desses pais ... Essas duas, ainda por cima, escolheram a mesma profissão e trabalham no mesmo setor.”

A viagem dura aproximadamente 1 hora e Sufi aproveita para cochilar também. Após desembarcarem e chegarem no saguão da delegacia, eles têm uma surpresa. Uma das gêmeas revela que o alvo do sequestro, na verdade, foi o robô bibliotecário. Ao escutar isso, Sufi comenta.

– Como é que é? Aquela máquina já deveria ter uns 200 anos. Quem teria interesse em sequestrar um robô que dá mais defeito do que outra coisa?

Então, um homem surge das sombras perto da mesa do café.

– Jovem ... Nós estamos tão surpresos como você. Entretanto, foi uma operação extremamente planejada. Nove mercenários entraram pelas instalações do setor 10-B. Eles abriram um buraco numa das paredes e saíram de dentro de um minissubmarino.

Enquanto fala, a figura misteriosa se aproxima da luz. Ele pesa 180 kg, tem 2 metros de altura, longos bigodes e usa uma farda azul com detalhes dourados. Além disso, ele está segurando um par de luvas mecânicas amareladas. Após convidar os jovens para entrarem no escritório, ele se identifica como o delegado daquele setor. Após se sentarem, Tabatá expressa todo o espanto que ela sente por aquela situação.

– Diz que eu tô sonhando! Aquela lata-velha que vivia perdendo os parafusos? Ele nem fazia parte do quadro de funcionários e ficava ali mais de enfeite mesmo. Ele não tinha função de bibliotecário. Aquilo devia ter sido recicla ...

Quando a jovem iria continuar a falar mais, Sufi tapa a boca dela.

– Entendemos que você não acredita no que aconteceu. Já chega. Eu gostava daquele modelo.

Olhando fixamente nos olhos do homem que está sentando à frente, Sufi continua.

– Eu lamento delegado, mas acho que não podemos ajudar nesse caso. Eu sei que, por termos estado no local do crime, o senhor é obrigado a pegar nosso depoimento, mas tenho prova amanhã. Eu poderia voltar para o meu contêiner?

– Infelizmente, isso não será possível Sufi. Por hoje, vocês dois ficarão detidos aqui e passarão a noite nesse escritório. Amanhã, caso as coisas estejam mais calmas, terão permissão para retornarem aos seus contêineres.

Como se tivessem ensaiado por séculos, Sufi e Tabatá indagam simultaneamente.

– É O QUÊ!?

Perto do colossal Museu Subaquático, dentro de uma caverna marinha, um drone submarino envia dados para uma base de localização desconhecida em meio a uma floresta tropical. Numa sala daquela instalação misteriosa, raízes se espalham por todo o piso e se entrelaçam com fios e cabos de alta tensão. As paredes estão cobertas por um tipo de musgo marrom fluorescente, que emite esporos, continuamente, através de estruturas que abrem e fecham num ritmo similar as batidas cardíacas. No centro daquele local, sentado numa cadeira flutuante, uma criatura humanoide feita de cipós, plantas e fungos, traja uma armadura metálica adornada por uma imensa capa escarlate de bordas douradas. O “rei local” não tem olhos ou boca. Na parte superior da cabeça, os rizoides dão lugar a um amontoado de massa argilosa com capilares fluorescentes de cor lilás, o qual forma uma estrutura que lembra os giros e sulcos cerebrais de um encéfalo exposto. De repente, dentro de onde corresponde a garganta daquele ser, uma voz, sufocada como a de alguém preso dentro do tronco de uma arvore, se manifesta.

- Ato 65 ...

Ao falar isso, um pequeno esporo lilás fluorescente sai do “encéfalo” do ser e flutua no ar por alguns segundos até desaparecer.

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