01/01 (Sufi Kalre): Sápotas Sem Maquiagem

CAP 01 | Sápotas Sem Maquiagem

Filho de um renomado pesquisador do país de Sápotas, Sufi encontrou um lugar de destaque e brilho nas instalações do imenso Museu Subaquático da Vida Marinha Nacional. O local é, praticamente, uma cidade no fundo do mar. Ele conta com duas faculdades de extremo renome, escolas tecnológicas e abriga diversos laboratórios de pesquisa avançada. Em alguns pavimentos, existem bairros inteiros compostos por pequenos prédios, ruas e lojas. Nessa colossal estrutura, Sifu, com apenas 15 anos, estuda e trabalha. Ele é um garoto franzino, moreno, cabelo curto e olhos castanhos. Apesar da pouca idade, já sabe o que deseja: ele almeja umas das posições de conselheiro na administração daquele local. O jovem é diferente da grande maioria, que gosta de jogar bola, correr na terra ou estar na superfície. Sufi ama o mar e o isolamento. Entretanto, uma colega de turma, não deixa o pobre em paz. Ela se chama Tabatá e é uma menina morena baixinha, com bochechas rosadas, nariz fino, cabelo castanho cortado na altura do ombro e uma marca de nascença na testa, que lembra duas pintas bem próximas uma da outra. Ao avistar o colega de escola, ela não perde tempo.

– Sufi, são 20:00 e você ainda tá aqui nessa biblioteca. Você não tem vida não? Tá todo mundo nos alojamentos ou fazendo compras.

– Eu só lá todo mundo, Tabatá ... Se essa biblioteca fica aberta 24 horas do dia e os outros não usam, problema é deles. Quando vierem as provas da vida, quem tiver melhor preparado que se garanta.

– Ai! Lá vem você, de novo, com isso de provas da vida e preparo. Já ouviu falar numa coisa chamada “acaso”. Às vezes, as coisas só acontecem. Não é à toa que tem tanta gente importante em Sápotas que você olha e vê que aquelas pessoas nem deveriam estar lá.

– Sua tonta. Isso não se chama preparo ou acaso. Isso se chama puxada de tapete.

Após Sufi falar isso, os dois ficam em silêncio por alguns segundos. Então, ambos começam a dar risadas juntos, pois era de conhecimento geral que a alta cúpula do país de Sápotas não prestava. Muito longe de ser um lugar de corrupção, Sápotas é a “sede oficial” da falsa bondade vendida como desenvolvimento em conjunto. Esse é um dos motivos pelo qual Sufi é um jovem que prefere se manter isolado. As únicas exceções a essa regra adotada pelo rapaz são Tabatá e Tite, duas pessoas nas quais ele não vê traços de inveja. Pelo contrário, os dois se preocupam com Sufi mais do que o próprio com ele mesmo. Então, após aquele minuto de silêncio e risadas, Tabatá continua a falar.

– Você ficou sabendo que tá estourando outro escândalo envolvendo o país? Noticiou o dia inteiro nos jornais de hoje.

– Outro? O que de mais sujo esse país tem a oferecer para que seus habitantes se encham, ainda mais, de vergonha diante do mundo. Eles conseguiram a proeza de piorar a reputação do país?

– Lembra que Sápotas firmou um acordo de parceria com a região de Gârdhera? Aquele para poder usar o “titânio vermelho”, obtido após o titânio ser modificado por um tipo de bactéria extremófila presente só em Gârdhera. No acordo, Sápotas poderia usar o titânio vermelho em diversas outras aplicações. Foi muito noticiado em todos ...

– Eu lembro ... Eu lembro ... Não me diz ... Não... Sápotas está sendo acusada de contrabandear a bactéria extremófila, ao invés de trazer pra cá só titânio vermelho?

– Sufi, pior que é isso mesmo. Segundo as reportagens, as empresas de Sápotas que estão lá em Gârdhera modificaram as bactérias extremófilas para criarem bioprodutos e testarem nas pessoas de lá.

– Uma vez que Sápotas não pode tirar as bactérias de lá, pois elas só são estáveis no terreno de Gârdhera, os caras estão produzindo cosias diferentes das estabelecidas nos tratados para, dando certo, contrabandearem para cá. Certamente, não serão produtos que vamos comprar na lojinha do mercado.

– Então Sufi! É exatamente isso a acusação dessa vez. O país, onde a região de Gârdhera fica, está exigindo a expulsão de todas as empresas de Sápotas.

– Posso dizer que o próximo passo será os dois países entrarem em guerra pela disputa das grutas onde ficam aquelas bactérias. Isso vai dar um problema do tamanho do mundo ... Por esses e outros motivos é que gosto daqui ... Na superfície só tem problemas! Além disso, acho que deve haver um jeito de chegar nesse titânio vermelho sem precisar das bactérias de Gârdhera. Melhor ... Deve ter um modo de produzir um tipo de titânio com características superiores. Por que titânio vermelho? Não poderia ser titânio lilás? Azul ou verde? Ah! Sei lá! Uma hora eu consigo.

– Uma hora você consegue ganhar uma tuberculose Sufi ... Isso sim! Olha o que você tá lendo ... Rotas bioquímicas de degradação de biominerais em bactérias ferromagnéticas.

Pegando o artigo da mão de Sufi, Tabatá começa a bater com as folhas na cabeça do jovem, o qual só se defende. Ela não para e ainda reclama mais.

– Sufi! Tá vendo que ninguém está reclamando por eu falar alto? Tá vendo! Sabe o motivo? Porque só tem a gente aqui, Sufi! Até o robô bibliotecário tá dormindo!

Então, Tabatá pega Sufi pelo braço e o arrasta para fora da biblioteca.

– Tabatá, CALMA! Você não acha que tá exagerando? Tá parecendo minha mãe me mandando ir dormir ... Eu tenho prova amanhã e vou precisar cochilar em algum momento, mas não precisa ser agora.

Entretanto, não adiantou nenhuma argumentação de Sufi, pois Tabatá conseguiu puxar o jovem até o alojamento dele. Após colocar Sufi na cama e levar o artigo com ela, Tabatá fecha o contêiner onde o rapaz dorme. Do lado de fora, ela grita.

- BOA NOITE SUFI!

Rapidamente, ela entra no contêiner da frente e vai descansar. Alguns alunos, que dormem em outros blocos começam a reclamar pelo barulho que Tabatá fez, mas logo ficam em silêncio. Apesar de todo o avança tecnológico, os alunos das escolas moram num setor composto por apartamentos extremamente minúsculos. O que ninguém poderia esperar é que, algumas horas depois, a polícia bate à porta do contêiner de Sufi e de Tabatá. Então, o jovem acorda.

– Ué ... Batidas na porta? Quem seria nessa hora da madrugada?

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