01/06 (Renguri): Sobre Rei Palhaço

CAP 06 | Sobre Rei Palhaço

Renguri e Samurai Das Nove Mortes sobem lentamente a masmorra, passando andar por andar. Apesar de terem pressa e não quererem explorar cada pavimento por completo, o próprio ambiente cria situações que fazem eles andarem desnecessariamente e perderem tempo enquanto enfrentam criaturas. Eles lutam conta monstros extremamente poderosos, em batalhas que duram horas, mas as feras de grande porte que aparecem são incrivelmente pesadas e lentas, para sorte da dupla. Apesar dos inimigos terem grande resistência e hp de vida, o trabalho em conjunto dos lutadores cria possibilidades de ataques certeiros nos pontos cegos dos monstros. Finalmente, quando os colossos caem, é o momento de os guerreiros coletarem os cristais que aparecem. Renguri e Samurai dividem esses itens de forma alternada, pois essa foi a melhor maneira que encontraram para, caso um cristal valioso apareça após a derrota de uma fera rara, não haver briga entre eles.

Renguri aproveita para tentar aprender a língua daquele mundo, mas a sintaxe das palavras é muito confusa para o cérebro do rapaz. O Samurai explica mil vezes, mas Renguri chega à conclusão que não vai aprender aquilo em alguns dias. Se no mundo dele, Tomás apanhava para aprender inglês e espanhol, não seria diferente para dominar o idioma de outro mundo. Além disso, a nova língua parece uma mistura de hieróglifos com escrita tailandesa. Então, vendo todo o esforço, sem resultado, do garoto, Samurai aconselha ao jovem gravar somente as palavras principais, pois, por sorte, o que Renguri precisa está desenhado.

- Acho que, dessa forma Tomás, o problema é menos ... Problemático.

- Samurai, deixando essas aulas de linguagem de lado, quero perguntar algo. Durante esse tempo, eu só te chamo de Samurai. Qual o seu nome de verdade? Você nasceu nesse mundo ou também foi invocado?

- Após cinco dias, só agora você se dá conta que não tinha tido curiosidade de saber sobre essas coisas? Você é um pouco tapado garoto! Vou dar um desconto, pelo fato de você ter vindo pra cá num momento muito ruim. Como Sassandra está morta, focamos em destruir os inimigos enquanto eu te ensinava algumas coisas. De fato, acho que no fim, você não teve tempo nem para respirar.

- Lógico! É um monstro atrás do outro! Quando não é isso é o chão que desmorona, paredes que surgem do nada, espinhos que caem do teto ou fendas que se abrem. Tudo nesse lugar, até a estrutura física da masmorra, parece querer matar a gente.

- Vá se acostumando garoto! Isso, em comparação ao que vem pela frente, não é nada.

Então, após encontrarem um lugar para se sentarem, o Samurai conta um pouco sobre a história dele.

- Meu nome é Krai. Eu era um simples estudante de engenharia na década de 90, mas após um acidente, com um caminhão branco, vim parar nesse mundo. A mulher que você conheceu, a Sassandra, foi quem me deu um lugar para morar e uma bandeira para defender. A guerra entre os Reis dura uma eternidade e ela parece que não tem fim. Tem muita coisa que não dá pra falar agora, mas eu precisei acabar com muita gente no campo de batalha.

Alguns segundos de pausa. Reflexivo por um momento, após cerrar os punhos, o samurai continua.

- Foram tantas mortes e atrocidades, para, no final, eu não conseguir salvar a única pessoa que importava para mim. Por fim, vendo meu estado, Sassandra me propôs uma alternativa: ficar aqui, preso nessa masmorra, derrotando os invocados que se tornariam o Renguri. Confesso que, de início, quando vim para esse mundo, eu não entendi direito a lógica das pessoas daqui. Pelo pouco que pôde apurar, está profetizado, não se sabe por quem, que todo esse mundo será o responsável por destruir vários outros mundos. Por essa razão, muitos lutam para deter o Rei Palhaço e o herói Fênix do Meio-dia.

Inesperadamente, Renguri chora de rir ao escutar a nomenclatura Rei Palhaço. Por dentro, a vontade dele é de rolar no chão de tanta risada. Compreendendo a reação do jovem, Krai, o Samurai das Nove Mortes, somente alonga os braços e estala as costas, sem fazer nenhum tipo de reclamação. Então, ele continua.

- Quando eu ouvi isso pela primeira vez, achei que a sacerdotisa estivesse brincando e cai no chão de tanto rir. Entretanto, apesar do babaca se pintar como um, ele é visto como um defensor desse mundo por muitas nações. Sendo adorado e venerado, ele possui vários santuários mágicos espalhados por todos os continentes.

Renguri tenta parar, mas cai na risada de novo.

- Krai, não há como um rei palhaço ser levado a sério.

Calmamente, Samurai acrescenta.

- Talvez seja por isso que ninguém deu um fim definitivo nele até agora. O fato de o herói fênix ser um problema constante é compreensível. O desgraçado morre, mas depois invocam outro indivíduo para ocupar o lugar e assumir as memórias do antecessor. Entretanto, sobre o Rei Palhaço, eu não vejo palhaçada em alguém fingir ser fraco para desviar o foco e atenção de si. Dessa forma, ele engana as pessoas e faz os outros lutarem no lugar dele. Segundo a tal profecia, chegará um momento no qual ele convencerá a todos, até o mais inocente habitante, de que os outros mundos são compostos por monstros e por isso devem ser exterminados.

- Se é uma profecia que ninguém sabe se é verdadeira, por que acreditam nela?

- Por vários motivos, mas só vou citar um para você refletir. Pessoas de outro mundo, ao escutarem as palavras “Rei Palhaço” começam a rir por causa de uma magia que esse infeliz lançou sobre esse mundo. Leva tempo até eles conseguirem resistir naturalmente.

Renguri começa a rir de novo e percebe que, mesmo querendo, não consegue parar.

"Como isso é possível?"

Vendo Tomás reflexivo, Samurai diz que já está na hora de dormir. Depois, ele complementa o raciocínio anterior.

- Não se preocupe. Com o tempo, você fica mais forte e consegue se libertar do domínio dessa magia. Foi assim comigo também.

Depois de toda aquela conversa, a dupla resolve descansar numa gruta. Após algum tempo, o Samurai acorda suando. Ele grita e Renguri, que deveria estar de vigia, desperta. O rapaz vê o aliado angustiado e com a mão no peito. A camisa de Krai está, simplesmente, encharcada. Então, ofegante, ele diz estar bem e revela que as vezes vê o futuro em sonhos.

- Calma Renguri! Já estou melhor. Só não sei, se dessa vez, foi um pesadelo ou presságio.

Sorrindo, apesar da angústia, o samurai completa.

- Tomás, qualquer coisa é só não fazer bobagens. Primeiro, fique mais forte. Irei voltar a dormir. Já me sinto melhor.

Samurai se deita. Virando de costas para a direção de Renguri, ele acrescenta.

- Só preciso dormir mais um pouco.

Entretanto, sem que Tomás pudesse ver, Krai mordia a boca, com tanta força, que sangrava os lábios.

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