01/03 (Giovana Fergrane): Quarto Conin
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- 24 de fev.
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Atualizado: 9 de jun.

CAP 03 | Quarto Conin
Desesperada e aflita, Leila, a jovem recém-chegada ao reino do Nono Magma Laranja, corre dentro de uma plantação por caminhos estreitos entre numerosos arbustos de folhas rosáceas. Apesar do lugar estar repleto de frutos, que parecem acerolas e de coloração escarlate vibrante, nenhum empregado está ali para a colheita. O silêncio do vazio vermelho, sufocante e medonho, é profanado, involuntariamente, a cada movimento que Leila faz. O barulho, provocado pelo quebrar das folhas secas no chão, aumenta uma ansiedade torturante no peito da garota. A angústia pressiona os pulmões e o coração daquela pobre alma.
“O ... O ... O que eu ... faço ...”
Numa tentativa vã, já insana, ela suprime a respiração, pois o temor e o terror são tão avassaladores que Leila alucina uma lógica estranha: o monstro a achará mais rápido caso escute o barulho da respiração ofegante. Com a esperança de não avistar o terrível lobo mágico, Leila, constantemente, olha para trás. Entretanto, apesar de não ser visto pela presa, o monstro caminha meticulosamente por entre arbustos próximos. Ele monitora o alvo pela mana que ela libera. Ao mesmo tempo que denunciam a frieza de um caçador experiente, os olhos malignos do monstro estão levemente cerrados, o que faz as cicatrizes próximas se apertarem e enrugarem. Além do perigo que a estrutura corporal de um imenso animal selvagem pode representar contra um frágil corpo humano, Leila nem imagina que o monstro mexeu com a percepção sensorial dela. Ao longo de toda fuga, a jovem acredita que Giovana está com ela.
Então, finalmente, apesar de confusa e desorientada, Leila tropeça numa pedra. Ao cair, ela apoia fortemente as mãos contra a terra, dura e áspera, e sente a pele queimando por causa do impacto. Nesse momento, a jovem vê o céu ... Observa o ambiente ... Olha ao redor. Em choque, percebe que está perdida. O corpo começa a tremer. Involuntariamente, ela sussurra por um nome. A voz, cada vez mais abafada, vai sumindo em meio a vegetação. Nisso os sons dos passos da besta ficam mais perceptíveis.
- Eu ... Eu ... Não vou morrer assim de novo. Isso é horrível ... Cadê você ... Cabeça de beterraba? Quando eu mais preciso, você não está. Por que você ... Você não está aqui? Você nunca me escuta .... Vo ... você é sempre desse jeito ...
Agora, Leila está cercada por cinco lobos mágicos. O bando, que seguiu o chamado silencioso do líder, não ataca a jovem, pois a cena das lágrimas de tristeza, que escorrem pela face da vítima, enche de êxtase o interior daqueles seres e faz os corações das bestas baterem cada vez mais rápido de empolgação. Inesperadamente, por um breve momento, os sussurros de Leila desencadeiam uma energia estranha, a qual os lobos pensam se tratar de uma recitação para um feitiço poderoso. Entretanto, ela começa a esquecer de onde tinha vindo, bem como do rosto pelo qual chamava. Assim, aquela proteção momentânea, formada em volta dela, começa a enfraquecer. Apesar daquela explosão de mana ter sido rápida e inesperada, a manifestação foi percebida por alguém muito longe do local onde os monstros realizam uma amarga e penosa refeição. Então, um homem pondera sobre o que sentiu.
- Que descarga de mana, tão forte, foi essa? Talvez, alguém, que esteja correndo tanto risco, fez uma espécie de súplica que conseguiu chegar até aqui. Será um recém-chegado daquele lugar? Se for, isso é uma pena. Eles são sempre assim no começo. Mortos que demoram a entender que, não importa o quanto morram, eles nunca morrerão de verdade nesse reino.
Aquelas palavras foram proferidas por um homem de semblante frio e inabalável. Enquanto ele caminha, o indivíduo parece contemplar e refletir sobre algo dentro do próprio ser. Ele é o quarto Conin, administrador da região agrícola de Nuar. Ele também acumula a função de Sacerdote Supremo do castelo que monitora toda aquela área. O quarto Conin tem 411 anos. Ele está usando longas e esvoaçantes roupas verdes, que são feitas de um pano muito fino e parecido com a seda, entremeadas por diversas faixas de tonalidade mais clara e fluorescente, que saem das diversas camadas de tecido que compõem a vestimenta. Ele usa uma pintura ritualística na testa e próximo aos olhos, compondo encantamentos numa língua misteriosa e que sobressaem sobre uma maquiagem temática de raposa branca na face do homem. Os cabelos são longos e negros como a noite. O quarto Conin, praticamente, move-se flutuando pelo ar, sem tocar o chão. Enquanto isso, as vestes, usando as faixas que oscilam perto dele, coletam os lamentos que chegam no imenso salão.
“Ainda assim, eu não me lembro de ter sentido uma energia tão diferente desde o tempo das Guerras Astrais ...”
Dor e sofrimento compõem a áurea daquele ambiente, apesar da beleza. Um grandioso espaço, com a extensão de um campo de futebol, possui o chão meticulosamente revestido por pequeníssimas pedrinhas de mármore branco, dourado e negro, as quais, em conjunto, formam um magnífico mosaico. Nesse, a imagem de uma majestosa raposa dourada de duas cabeças é representada, de modo imponente, sentada sobre pilhas de crânios. A imensas paredes contêm gigantescas janelas, levando a inferir que ali já foi o lar de um ser com tamanho colossal. Além dessas estruturas, 17 imensas portas rodeiam o local, todas feitas de ouro negro. Através delas, gemidos e sons de choro chegam ao salão, destacando a continua atividade das prisões e salões de tortura que existem naquele castelo. A sonoridade angustiante ascende pelo ar do ambiente e boa parte dela parece convergir em direção a uma imensa pintura de uma Lua Dourada no teto.
“Desde aquele tempo, temos nós empenhado para garantir que ninguém produza novas Armurais com os habitantes desse reino ...”
Apesar das súplicas e sons de dor, o quarto Conin não demonstra alegria ou tristeza com a situação, pois aquilo é habitual para o homem. Ainda assim, ele não entende como uma manifestação de mana, tão distante, foi capaz de chamar a atenção dele. Enquanto o Sacerdote Supremo do Castelo de Nuar reflete, uma jovem, com a aparência de uma menina de 14 anos e usando roupas iguais ao Quarto Conin, entra por uma das portas.
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