01/04 (Flon Singor): Observador Oculto

CAP 04 | Observador Oculto

Na cidade abandonada onde buscavam pela medalhinha, Flon e Manu continuam reclamando um com o outro do lado de fora da casa. Devido à interação dos dois, fica claro e bem perceptível o quanto a jovem consegue tirar o rapaz do sério com a sequência de perguntas que ela faz, mesmo que Flon não responda a nenhuma. Sem que os dois percebam, há algo na parede externa do quinto andar de um pequeno prédio destruído e saqueado, tal como tudo ao redor. Próximo ao resto de uma janela, em meio a uma pintura marrom desgastada, um camaleão, camuflado e completamente imperceptível, observa os dois.

Os olhos do animal acompanham a dupla que caminha pela rua. Enquanto desviam das rachaduras e crateras do chão, os jovens discutem sem parar. O camaleão, ao ver que os dois estão retornando para o centro da cidade onde Flon mora com a mãe, desce pela parede rapidamente. O estranho animal muda de cor e textura conforme a superfície pela qual ele passa. O ser corre em passos rápidos até chegar na rua de trás do prédio. Mais rápido ainda, ele se dirige até a carcaça de uma pequena combe abandonada. O camaleão vai para debaixo do veículo e sobe para dentro passando através de um buraco na estrutura de metal corroída pelo tempo. Ao chegar no banco de trás, ele puxa uma pequena sacola de pano.

Em segurança no pequeno esconderijo, com a boca, o camaleão retira a corda que fecha a sacola. Após isso, um tablet de bronze, magnífico e altamente sofisticado, desliza para fora e fica sobre a superfície do banco. Ao ver que o objeto está numa posição que ele consegue manusear com uma das patas, o camaleão liga o aparelho. Um menu é aberto e o animal digita alguns códigos. Isso faz com que algumas telas holográficas sejam projetadas no ar. Nelas são mostradas diversas informações sobre Flon: registro médico completo da saúde do rapaz, monitoramento da fisiologia interna em tempo real, endereço de familiares, residência de amigos, entre outras. Apesar da grande quantidade de dados, o camaleão escolhe, ao esticar a língua sobre uma das imagens 3D virtuais, um relatório de observação específico. Quando essa tela holográfica, em particular, aproxima-se do animal, alguns botões holográficos surgem próximos aos dedos da pata dele. Finalmente, o pequeno ser digita rapidamente e insere mais informações naquele documento. Ele escreve que Flon é um prodígio com o uso da combustão interna e incineração da energia no ambiente. Além disso, ele faz mais anotações.

"Flon não sofre danos de desgastes pulmonares ao respirar o ar superaquecido e isso confirma que os pulmões estão adaptados. A namorada dele não parece se importar com os poderes que o rapaz possui. Ela lida muito naturalmente com isso. A estranha normalidade que ela apresenta diante do anormal chama um pouco a minha de atenção. Apesar dos movimentos de combate serem rústicos e primitivos para idade e classe, as habilidades de luta dele estão melhorando com o tempo. Ele merece mérito por estar aprendendo a usar os poderes sozinho."

Após fazer esses acréscimos ao relatório, o camaleão observa, em outra tela holográfica, a contagem regressiva de um relógio. A imagem, em questão, indica 4 anos, 9 meses e 30 minutos. O camaleão, com a língua, toca a superfície de outra tela holográfica, que se aproxima dele e mostra um mapa do mundo. Ao posicionar a pata perto dessa tela, os botões holográficos que ele está usando mudam de cor. O animal começa a acessar várias câmeras de registro de calor e encontra dois seres com temperaturas internas de 120 graus Celsius, os quais estavam a quilômetros de distância de Flon e Manu.

O camaleão tira a pata dos botões e em seguida desliga o tablet. Ele coloca a cabeça dentro da sacola de pano e tira de lá, com a boca, uma fina e pequena tira de metal, a qual parece ser feita de cobre. Além disso, o artefato contém diversas inscrições, numa língua não conhecida, sobre a superfície. Ele posiciona o item sobre o banco. Ao colocar a pata direita sobre este, a pequena placa começa a emitir prolongamentos laterais que vão se entrelaçando e recobrindo todo o pequeno membro do animal. Ao mesmo tempo, durante o processo, eles se condensam e remodelam até assumirem uma textura de escama de dragão. Assim que o camaleão observa que a pata direita já está recoberta pela blindagem, na qual dois furos embaixo do punho são saídas para disparos de laser, o animal olha em direção ao céu. Mesmo em plena luz do dia, ele parece enxergar um céu noturno através das lembranças dele.

Nas memórias do animal, ele se recorda de uma pequena aeronave, similar a um caça de cor bronze, sem asas laterais e com turbinas compactas retangulares, sugerindo ser um meio de transporte de outro planeta. De dentro do pequeno veículo, um piloto faz um sinal com a mão para um jovem camaleão. Após isso, o estranho meio de transporte sobe verticalmente sem parar. De repente, uma imensa nave aparece do nada e abre um portal, por onde aquele tipo de caça segue viagem. Voltando ao tempo presente, o camaleão olha para baixo. Então, ele começa a lembrar de diversos momentos que observou da vida de Flon ao longo dos anos: primeiros passos, passeios com a mãe, dormindo após os aniversários, fazendo os deveres na escola, jogando bola na rua, entre outros.

O animal quase se perde nas recordações, mas retorna ao focar na pata recoberta pela blindagem. Empurrando o tablet de volta para dentro do saco de pano e colocando este embaixo do mesmo banco de onde o tinha retirado, o camaleão fica invisível e sai correndo em toda velocidade. Optando por superfícies sólidas e evitando terrenos moles ou arenosos, ele segue como se fosse uma moto fazendo 120 km por hora.

Após algum tempo, ele avista uma criatura com cabeça de boi, corpo de tatu e braços humanos. O monstro é altamente musculoso e repleto de cicatrizes. A criatura sente que algo se aproxima, mas quando o camaleão já está longe do ser, indo em direção ao segundo, só é possível escutar o barulho do corpo do monstro caindo no chão, sem a cabeça, enquanto os braços pegam fogo. As chamas se espalham instantaneamente e transformam o que sobrou do ser em cinzas. Um abate furtivo, altamente cirúrgico e veloz.

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